Isabella Faria: a popularização de podcasts como meios informativos - Revista Esquinas

Isabella Faria: a popularização de podcasts como meios informativos

Por Giulia El Houssami : novembro 23, 2023

A jornalista possui uma variedade de livros, quadrinhos e também itens colecionáveis do cinema, incluindo de “Twin Peaks”, sua série de televisão preferida. Foto: Giulia El Houssami/Esquinas

Isabella Faria é apresentadora do programa “Como é que é?”, da Folha de S. Paulo, que recebe convidados ao vivo ao longo da semana 

Com episódios sobre Taylor Swift, Israel e fisiculturismo, o programa chama a atenção do público, despertando a curiosidade sobre seu funcionamento e produtores. Assim, ESQUINAS foi até a casa de Isabella entender um pouco mais sobre sua trajetória:

Ao sair do elevador no décimo terceiro andar, fui recebida por Nietzsche. Não pelo filósofo pessimista, é claro. Mas, sim, por um vira-lata homônimo. O cachorrinho de pelos amarelos pulava de um lado para o outro, emitindo latidos como se dissesse “olá” várias vezes. Depois de me receber como um anfitrião exemplar, Nietzsche, que tem um bigode parecido ao de seu patrono, me acompanhou junto de sua dona até o apartamento.  

Desde o início do ano, eu acompanho o “Como É Que É?”, um videocast da Folha de São Paulo, que também está disponível como podcast em plataformas de streaming, com apresentação de Isabella Faria. Quando enviei um e-mail pedindo à formada pela Cásper Líbero uma entrevista, eu nutria uma esperança quase ínfima de resposta positiva. Imagine, portanto, minha felicidade de ser recebida tão gentilmente por ela e seu marido.   

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Isabella me descreveu que a ideia de nomear o vira-lata se concretizou ao encontrar Cassio Scapin, ator que interpretou o filósofo em “Quando Nietzsche Chorou”, justo na feira de adoção na qual estava o filhote. Foto: Giulia El Houssami/Esquinas
Foto: Giulia El Houssami/Esquinas.

Nervosa, me sentei em uma poltrona confortável e observei. Em uma estante que ocupava quase que totalmente uma das paredes, Jung coexistia com Fernando Pessoa e Érico Veríssimo ao lado de quadrinhos e séries de fantasia. Uma almofada de banana remetente ao álbum de Velvet Underground, banda de rock dos anos 60 cuja arte e produção foi de responsabilidade de Andy Warhol, enfeitava o sofá. Tudo no cômodo dizia que os moradores da casa eram pessoas cultas e muito interessantes. 

Comecei perguntando o porquê de Isabella ter escolhido jornalismo. “Eu sempre gostei de contar histórias e não muito a minha, mas as histórias dos outros. Recontar isso era muito legal para mim”. Seu desejo de protagonismo se mesclou com a satisfação de vocalizar as percepções de outras pessoas.  Ambos, combinados ao contexto familiar em que cresceu habituada a assistir telejornais como o Jornal Nacional da Globo, germinou sua vocação para ser repórter. “Quando estou na frente das câmeras, dando voz a uma pessoa que por algum motivo não tem essa mesma voz que eu teria, eu consigo ampliar o que ela está dizendo. Isso pra mim não tem preço”, confidenciou com brilhos nos olhos.   

Mas, para atingir seu nível de sucesso profissional atual, foi preciso experienciar dois momentos-chave em sua vida. Após um período de estágio no Profissão Repórter, a ex-casperiana decidiu fazer um intercâmbio em Nova York. “[Pensei que] se na frente das câmeras não está dando certo por enquanto, preciso saber fazer outra coisa. E eu fui fazer. Eu fui aprender a filmar e editar”, contou para destacar o valor de desenvolver habilidades complementares ao seu principal objetivo.  

Além disso, ela ressaltou sua experiência na CNN como uma fase definidora em sua carreira. No contexto pandêmico, muitos apresentadores haviam sido infectados e tiveram que fazer distanciamento social, deixando espaços a serem preenchidos nos programas. Isabella detalhou que “eles tiveram que ir puxando pessoas [de outras posições], me puxaram… E deu certo. Eu aprendi tudo o que sei de apresentação, de como me portar em frente às câmeras, lá na CNN”. Na emissora, ela participou de grandes coberturas ao vivo, como Guerra na Ucrânia, eleições americanas de meio de mandato (Midterms) e as eleições presidenciais no Brasil. Assim, as habilidades desenvolvidas neste período alavancaram sua carreira até a posição atual de apresentadora na TV Folha.  

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Isabella recomenda a jornalistas o livro “Hitchcock/ Truffaut”, que apresenta uma extensa entrevista com mais de 500 perguntas ao cineasta inglês conhecido por “Psicose”. Foto: Giulia El Houssami/Esquinas
Foto: Giulia El Houssami/Esquinas

Aproveitando o gancho, conversamos sobre o “Como É Que É?”. Seu programa ao vivo nasceu de uma proposta de informar e discutir assuntos em alta na mídia por meio de entrevistas diárias. “A ideia surgiu de uma forma muito natural e com a participação de todos na equipe”, conta. Cada integrante teve seu papel criativo no processo, seja na concepção de cenário, edição ou identidade visual, o que o tornou muito orgânico de acordo com Isabella.  

Em seguida, questionei como ela, enquanto jornalista, compreendia o recente e pronunciado crescimento de podcasts e videocasts. A apresentadora acredita que a popularização de tais formas de se informar se dá por uma junção de fatores, como a praticidade e rapidez de consumir notícias enquanto realiza outras tarefas do cotidiano. Contudo, ela destacou que o apelo está na conexão estabelecida com os ouvintes.  

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Em comparação com o jornalismo mais tradicional da televisão aberta, “parece que o podcast te inclui em uma mesa de bar. É um meio mais confortável, mais aprazível, que engloba a pessoa que está ouvindo”. Relatou ainda que, apesar de preferir se informar a partir do texto, aprecia a produção de podcasts narrativos, com a capacidade de fazer o ouvinte se sentir parte da história. 

Com relação ao texto como modalidade informativa, Isabella frisou a importância do seu consumo, principalmente em uma geração de estudantes de jornalismo, como a minha, que tem cada vez menos dado preferência a matérias de grandes veículos da mídia. “Nas redes, são apenas pedaços de informação. E eu acredito que estes pedaços dão muita margem para desentendimentos, para você não entender o que está lendo”. Isto porque, segundo a jornalista, há ainda uma resistência de tais veículos em difundir nas mídias sociais um conteúdo resumido e de qualidade. Dessa forma, cria-se também o perigo da alienação através das bolhas de consumo, uma vez que o algoritmo fica responsável por selecionar as informações ao usuário.  

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Isabella define jornalismo como uma profissão que “conta, reflete e dá voz a uma sociedade.” Foto: Giulia El Houssami/Esquinas
Foto: Giulia El Houssami/Esquinas.

Aproveitei a oportunidade para pedir um conselho, de uma jornalista consolidada para aqueles em formação. Isabella refletiu que, em uma carreira como a nossa, que está em constante mudança, é imprescindível “estar sempre de olho em tudo”. Justamente por esta razão, ela evidenciou o quanto a profissão pode ser cansativa, visto que, se a sociedade se transforma, o jornalismo deve acompanhar. Por fim, sintetizou seu conselho: “leiam, sejam as pessoas que vão dar às redes sociais a qualidade que elas merecem”. 

Editado por Daniela Nabhan

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